OS ASCENDENTES DE UMA REVOLUÇÃO SOLAR
- Felipe Leal
- 7 de set. de 2023
- 5 min de leitura

Em seu estudo dedicado às técnicas dos Retornos Solares, o essencial "Das Revoluções dos Anos das Natividades", o astrólogo persa Abu Ma'Shar (sécs. VIII-IX) nos interpõe um lembrete de extrema importância, rememoração pedagógica e gentil que ao estudante de Astrologia mais parecerá um estupor iniciático: toda Revolução Solar levanta atenção a [seus] TRÊS ASCENDENTES, a saber, o ascendente natal, o signo do ascendente profectado, e o ascendente do ano.
Sigamos modo atento estes três pilotos:
a) que nos diz a MOVIMENTAÇÃO DO ASCENDENTE NATAL dentro daquele mapa da Revolução, que é em relação aos tempos do primeiro uma espécie de capítulo imprensado de folhas grudadas?
[ainda que fração analítica menos importante que a dos outros dois,] ela dirá sobre aquele ou aquela que reconhecemos como o "eu" A ENTRAR NO ANO, ainda despido dos efeitos dele mas, ao longo de seu decurso, seguro dentro do perímetro de suas habilidades e trajetórias até ali firmadas. O ascendente natal é como o personagem que você monta antes de adentrar na "primeira fase" de um videogame; ele é o seu retrato de um autorreconhecimento, afinal, ele é o "você até ali". A Revolução simplesmente empurra o start, de forma que todas as etapas dali em diante terão como frescor inicial, pré-ventania dos acontecimentos, a casa aonde o ascendente se desloca.
Ofereço-lhes o exemplo de meu retorno solar vigente, que está prestes a acabar [no 22 de set.]:
O ASCENDENTE EM ESCORPIÃO sobe à casa 12, cedendo espaço a um ASC em Sagitário. Ou seja: a luta pela sobrevivência se transforma em peregrinação interna de costuras e lutas semi-invisíveis com a psiquê: para criar expectativas e esperanças transeducativas [a mim e a outrem] foi preciso dialogar com resoluções progressivas, paulatinas, diante do extremo isolamento que a multiplicidade de responsabilidades e entregas que o ano exigiu, entre o doutoramento, três mudanças de casa, o desaparecimento do meu primeiro cachorro e um histórico recente de ansiedade, ainda em medicação [Marte, dispositor, está na casa VII, que além dos clientes, chamados, transições trabalhistas e geográficas, é também a dos médicos].
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b) que nos complementa a observação do SIGNO DO ASCENDENTE PROFECTADO?

Ora, como as idades vão saltando as casas do mapa natal como um delicioso jogo de amarelinha, de maneira que (pré)sabemos, por exemplo, que os 29 ativarão a SEXTA casa, PROVAVELMENTE trazendo infortúnios físico-trabalhistas, e que os 24 nos retomam ao signo ASC, liberando a pulsão pela GLÓRIA que é viver sob as circunstâncias do próprio desejo e que sejam fruto das próprias e dotadas mãos --- como é possível MAPEAR, enfim, o SIGNO/ASSUNTO [pelo sistema de signos inteiros, claro] ATIVO NAQUELE PERÍODO, seu deslocamento será capaz de montar uma pequena mas poderosa narrativa introdutória, em que "o tempo de X" se move "PELO & AO tópico de Y". Exemplifiquemos:
Signo 6 [6º em rel. ao ASC] profectado —> migrando à casa 5
(o trabalho exigirá particular esforço neste ciclo, mas tal labuta será traduzida criativamente, quem sabe em acessório aos termos da arte, e trará prazer ao nativo)
Signo 8 profectado —> migrando à casa 1
(o ano terá paralisias, receios e negociações acirradas, que lhe colocarão sob dependência dos tempos e ações de seus clientes, das intempéries da vida [a depender do signo] ou mesmo de seu cônjuge;;; gastos, portanto, entram em jogo, mas [a depender do regente] o ano pode contar com volumosos ganhos administrativos, isto é, que envolvam programar recursos de outrem)
*não esqueçamos que o planeta GOVERNADOR DO ANO advirá do signo profectado a partir da seguinte ordem:
se NO MAPA NATAL este signo conta com algum astro, então ele será o regente do ano;
se o signo natal não contém planetas mas no mapa da REVOLUÇÃO ele acusa tal presença, então este será o regente do ano;
se em nenhum dos mapas o signo está ocupado, então seu regente natural será o governador do ciclo [Ex: Peixes = Júpiter].
[as regras se aplicam ao plural! Sim, um ano pode ter mais de um regente!]
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c) e o que nos afirmará, então, o ASCENDENTE da Revolução?
"Simples": as circunstâncias do ano.
Todo o "problema" deste ASC em teoria tão indecifrável ["como assim o meu asc muda?" - é comum ouvirmos] jaz no lugar, NA CASA NATAL DE ONDE ELE PARTE.
Tomemos como objeto minha revolução vigente: Sagitário, a 2ª casa natal, sobe ao ASC: (1) as necessidades de crescimento e flexibilização financeira; (2) a montagem de todos os paradigmas de escrita e pensamento de meu ano como necessitados de REPERTÓRIO, MEIOS filosóficos, conceituais e metodológicos; (3) uma reeducação sobre o que sustenta meu corpo, isto é, MINHA SAÚDE como fruto de minha BIOS, meu meio e atitudes de vida, e (4) o reforço alegre e multivocal do colocar "tijolos" científicos sobre meu caminho — estes temas comporão a paisagem de ano, o MAR sobre o qual se navega, em que (signo mutável filho de Júpiter) se tentará, com muito jogo de cintura, transformar a experiência em sabedoria, afirmando sobre a própria vida autonomia, afirmação e fôlego.
DOIS CASOS ESPECIAIS costumam "travar" aquele que testemunha o mapa de sua Revolução pela primeira vez:
a REPETÊNCIA do ASC NATAL no ASC do ano;
e a projeção do ASC natal a uma casa maléfica.
Quanto ao primeiro caso, DECERTO que a re-provocação das circunstâncias natais colocará aquilo que melhor sabermos fazer e também aquilo que mais queremos alcançar em contextualização, LOGO, EM AÇÃO; como se aquele ano em específico "pinçasse" o grande livro do destino num de seus trechos mais importantes.
Não negaremos a relevância da marcação. Mas é FUNDAMENTAL observar, em cima disto, QUE POSIÇÃO O ASCENDENTE NATAL OCUPA EM RELAÇÃO AO LOTE DA FORTUNA! Se ele é décimo segundo [isto é, se a fortuna natal está na casa II, fazendo da primeira uma doze "da sorte" [do mapa secreto da fortuna], provavelmente isolamento, agonias, esperas e invisibilidades estarão envolvidas nessa performance pela própria glória. Se ele é quinto [a fortuna natal estando na IX], é provável que o nativo desabroche talentos artísticos ou se envolva num relevante programa pedagógico.
Quanto ao segundo caso, em primeiro lugar, lembremos que o ASC natal e seu regente não necessariamente serão o signo/planeta profectado, que, como regente do ano, terá relevo maior que os outros planetas. Ademais, uma casa maléfica não é uma casa TRÁGICA, e se os dispositores de um tópico infortuito querem tanto assim ser encontrados pelo nativo, serão outras as técnicas capazes de o relevá-lo.
As casas maléficas são DURAS, como o são diversas câmaras da vida. As durezas do ciclo, aliás, podem muito bem estar contidas [também] numa casa benéfica! Nós temos pré-disposições planetárias, mas NUNCA PRÉ-LEITURAS! Todo mapa é heterogêneo e ''brincará'' com a Astrologia à sua maneira.
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